Poesia de alto nivel - Joao Cabral de Melo Neto

ainda na tenra juventude impressionei-me com sua poesia, genialidade pura, totalmente perfeitos em sua métrica, versos e prosas se entrelaçam e produzem um efeito avassalador em seus leitores. Considerada uma literatura seleta, os poemas de JCMN, apresentam um forte sentido social de alguém que amava a sua terra e que como diplomata morou em diferentes continentes e países com diversas culturas. A seguir um trecho de uma de suas obras primas, O RIO que ilustra o percurso do rio Capiberibe, até desaguar no mar, às portas de Recife:

Sempre pensara em ir
Caminho do mar.
Para os bichos e rios
Nascer já é caminhar
(....)
Meu caminho divide,
De nome, as terras que desço.
Entretanto a paisagem,
Com tantos nomes, é quase a mesma.
A mesma dor calada,
O mesmo soluço seco,
Mesma morte de coisa
Que não apodrece mas seca
(...)
Sou um rio de várzea,
Não posso ir tão ligeiro.
Mesmo que o mar os chame,
Os rios, como os bois, são ronceiros.
(...)
Diversa da dos trens
É a viagem que fazem os rios;
Convivem com as coisas
Entre as quais vão fluindo;
Demoram nos remansos
para descansar e dormir;
Convivem com a gente
sem se apressar em fugir.
(...)
Ao entrar em Recife,
Não pensem que entro só.
Entram comigo a gente
Que comigo baixou
Por essa velha estrada
Que vem do interior
(...)
Mas antes de ir ao mar.
Onde minha fala se perde.
Vou contar da cidade
Habitada por aquela gente
Que veio meu caminho
E de quem fui confidente.
(...)
Já deixando o Recife
Entro pelos caminhos comuns do mar:
Entre barcos de longe,
Sábios de muito navegar.


MORTE E VIDA SEVERINA

(...)
- Essa cova em que estás
Com palmos medida,
É a conta menor
que tiraste em vida

- é de bom tamanho,
Nem largo nem fundo,
É a parte que te cabe
Deste latifúndio.

- Não é cova grande,
É cova medida,
É a terra que querias
ver dividida.

- é uma cova grande
Para teu pouco defunto,
Mas estarás mais ancho,
Que estavas no mundo.
(...)


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